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Fiat Strada Hard Working 1.4 : obsoleta ou honesta?

Há mais de 20 anos no mercado e liderando com folga o segmento de picapes compactas no Brasil, pelos bons serviços prestados, a Strada tornou-se uma espécie de símbolo da robustez no transporte de cargas. Lançada em 1998, em pouco tempo superou a concorrência e nunca mais perdeu o posto de picape mais vendida no Brasil; inclusive, conseguiu a façanha de abocanhar uma fatia maior do que todas as outras oponentes juntas, à época, Chevrolet Montana, Volkswagen Saveiro, Ford Courier e até a esquisita (e boa) Peugeot Hoogar, esses dois últimos modelos, já descontinuados.

Recentemente testei a Strada Hard Working com motor 1.4 e cabine estendida. Para quem apenas está acostumado aos carros moderninhos com seus sistemas de direção elétrica e câmbio automático, dirigir uma dessas seria uma quebra de paradigma, pois a Strada (na gíria atual) já pode ser considerada uma ´picape raiz´.

Sua direção, apesar de hidráulica, é pesada e o esquema de câmbio manual com alavanca de engates longos (e relações curtas), associado ao jurássico pedal de embreagem, realmente denunciam que não há muita diferença técnica entre o carro lançado há 21 anos e o de hoje. A questão, como eu ressaltei no título, é que ela cumpre bem o seu papel dentro do propósito a que foi concebida. Se você precisa transportar cargas com baixo custo de manutenção e não se importa com um padrão limitado de conforto…, esse é o carro.

A Strada Hard Working vem com motor Fire de 1.368 cm³, aspirado, com 4 cilindros, bicombustível e que entrega (quando abastecida puramente com álcool), 88 cv de força e torque máximo de 12,5 kgf.m. A suspensão dianteira é independente do tipo ´McPherson´, e a traseira oferece eixo rígido de arquitetura antiga, mas com ótima funcionalidade. A caçamba comporta 1.220 litros de bagagens ou 705 kg de carga útil.

Não há muito isolamento acústico na cabine e o interior é quase todo revestido em plástico. A forração dos bancos é reforçada com tecido que suporta tração um pouco acima da média. Um microcomputador de bordo oferece informações básicas, mas úteis, como hodômetro com quilometragem parcial, consumo médio e relógio.

Três clássicas agulhas, da esquerda para a direita do painel, distribuem o conta-giros com limite de 7.000 rpm (faixa vermelha inicia em 6.000), velocímetro (com escala até 200 km/h, mas a velocidade máxima fica em 174 km/h) e temperatura do motor. Tudo muito simples, prático e funcional, afinal de contas, para um veículo utilitário, pra quê mais do que isso?

Um ponto de desatenção da Fiat nesse ´case de sucesso´ é o pífio sistema de som. Não me refiro à pequena “central multimídia”, até completinha e de fácil manuseio: minha queixa vai para os dois péssimos alto-falantes. Ouvir música é uma das coisas boas da vida, mas não desse jeito dentro da cabine da Strada. Problema de fácil solução, baixíssimo custo e que nada (ou quase nada) agregaria ao valor de venda do veículo. Só falta boa vontade para se resolver.

Enfim… a Strada Hard Working 1.4 não é nenhuma produção digna de estatuetas de Oscar, mas, sem a menor dúvida, a Fiat merece aplausos sinceros de quem precisa de um carro que “aguenta tranco” sem reclamações, além de ter ótimo valor de revenda quando em estado usado. Mesmo com o pé leve, só consegui extrair 7,1 km/litro (de gasolina) de consumo na cidade, número condizente com o peso dos anos do projeto antigo e que contempla aerodinâmica obsoleta e motorização ultrapassada, apesar de amplamente resistente. A Strada é uma velha bailarina que ainda consegue se impor com beleza em palcos anônimos por aí… (Fotos: divulgação AG FBA / Instagram: @acelerandoporai)