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TIRO PELA CULATRA Do velho Brasil – país das incoerências sociais, impostos abusivos e corrupção desenfreada – tudo pode se esperar. Certamente você deve se lembrar da ´greve dos caminhoneiros´ ocorrida em maio deste ano. A situação paralisou parcialmente as estradas do país por 11 dias, levando o Brasil a ficar desabastecido de alimentos, bebidas, combustíveis, medicamentos e outros produtos. O fulcro da questão, a reivindicação Nº 1 dos caminhoneiros era apenas a diminuição do preço do óleo diesel. Bom lembrar que esse combustível é subsidiado pelo governo brasileiro há décadas, ou seja, o dinheiro dos impostos pagos pelo povo, serve, dentre tantos descalabros, para ajudar nesse colossal prejuízo ligado ao subsídio do diesel.

DESDOBRAMENTOS – A greve dos caminhoneiros foi encerrada a partir de um acordo entre o Governo Federal e os profissionais da estrada após uma promessa da parte mandatária de abaixar em R$ 0,46 o preço do litro na ´bomba´ de abastecimento nos postos. Até ontem (8/8) um pouco antes do fechamento desta edição, a redução havia atingido o patamar de R$ 0,35. A fonte que me passou a informação enfatizou que essa redução já aconteceu há várias semanas e estancou por aí.

PROBLEMA 1 – Depois desse acordo entre Governo e caminhoneiros, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) criou a chamada “Tabela do frete mínimo”. As partes se reuniram, conversaram, avaliaram o teor do documento e, enfim, concordaram em colocar em prática a tal tabela, no entanto, parece que na vida real das esburacadas estradas nacionais, as contas do ´frete mínimo´ não se harmonizam muito bem com as conversas ocorridas em Brasília (DF) e, principalmente, com os empresários que têm que pagar os fretes para receber as suas mercadorias. Veja apenas esse exemplo: num percurso que terá uma distância percorrida entre 901 a 1.000 quilômetros, o valor do frete a ser cobrado pelo caminhoneiro terá um custo ´KM/eixo´ de R$ 0,93. Ou seja, um caminhão que tenha 6 eixos (maioria em trânsito) terá que cobrar R$ 5.580 por um frete de apenas 1.000 quilômetros de distância. Não é fácil pra nenhum dos lados. Dentro do contexto, não se pode esquecer que o caminhoneiro terá despesas de combustível, desgaste de pneus e motor, financiamento do veículo junto ao banco, estada dele e do caminhão na parte noturna, alimentação, possíveis multas e ainda o pagamento dos pedágios absurdamente abusivos. Outro detalhe: um frete das regiões sul/sudeste em direção ao nordeste chega a ser três vezes mais caro do que o cobrado no caminho inverso. A razão é óbvia: há muito mais produtos a serem escoados de lá pra cá do que daqui pra lá… As reclamações, portanto, já estão voltando. Esse valor da tabela do frete mínimo, se fosse pago em sua integralidade, até seria bom para os caminhoneiros, mas é inviável para o empresário que paga.

PROBLEMA 2Esse país é tão esdrúxulo que, aquilo que só era 1 problema, está se transformando em vários! O efeito cascata da inviabilidade da ´tabela do frete mínimo´ parece que se voltou com força aos próprios caminhoneiros. Sem condições de pagar o frete sugerido pelo governo, sem meios de negociar esses valores diretamente num livre comércio com os caminhoneiros e/ou transportadoras, diversas empresas de grande porte já começaram a comprar caminhões para formar a sua própria frota. A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) já sinalizou a veracidade desse movimento. Muitas empresas multinacionais produtoras de grãos no centro-oeste do Brasil, por exemplo, já estão agregando caminhões novos às suas folhas de pagamento, pois, quando se tem um volume de transporte considerável, fica mais barato pagar um financiamento da compra de um caminhão, do que terceirizar a frota arcando com o preço da (agora assustadora) tabela do frete mínimo… No início desta semana, o executivo Carlos Zarlenga, presidente da General Motors Mercosul, afirmou que a Chevrolet está considerando com muita atenção romper com todos os contratos terceirizados para formar a sua própria frota de carretas para escoar a produção de veículos em toda América do Sul. É inacreditável que, em tão pouco tempo (de maio pra cá), o panorama da atividade dos caminhoneiros possa ter mudado tanto. Mas é compreensível essa velocidade, afinal de contas, em tempos modernos aonde “quem cochilar, perde o cachimbo”, a indústria não pode parar. Talvez fique a lição de que é necessário pensar com calma sobre os negócios e seus desdobramentos, antes de tomar iniciativas radicais.