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buru-rodas

2016: um ano sem saudades, porém, educativo

Quais tenham sido suas experiências no cruzar dos dias de 2016, a todos nós terá ficado a certeza de termos vivido um período único. O Impeachment da ex-Presidente; sua pífia lembrança; a surpresa do deficit público; os sustos diários com a extensão do assalto ao país; os processos de punição transformando-se na questão do dia pela variedade e agentes; as condenações e prisões; a teatralidade exibida por réus ou por condutores do processo; o patinar pela busca de terreno firme para a retomada do desenvolvimento; a desarmonia dos poderes, tudo ficará marcado em nossas experiências, creio. Tomara, a massa dos pagadores de imposto de renda, os leitores de jornais e sites, formem consciência que mudança só aparecerá quando deixarmos de tratar política e seus agentes como coisas paralelas, e atentarmos à preocupação em saber o passado dos candidatos, ligações, interesses, até ficha a ficha penal e ´folha corrida´, se possível. E no “pós-voto” assumirmos a postura de cobrança de ética no comportamento. Sem isto, apenas estaremos pagando cada vez mais para recompor as contas dos cíclicos métodos de assaltos ao país, que vão do descontrole dos super salários, ao varejo dos gastos desmesurados dos Legislativos e do Judiciário, à indicação do assessor sem qualificação, das compras públicas superfaturados e sem qualidade. Esta farra, que vai do pequeno município aos palácios brasilienses, tem que acabar ou nosso futuro sempre será o de “país do futuro…”

Mercedes-Benz feito em Iracemápolis(SP)
Mercedes-Benz feito em Iracemápolis(SP)

Sobre rodas, como foi 2016? >> Teve de tudo, mas com certeza a maior referência setorial terá sido o insólito: executivos da indústria automobilística presos, pois condenados pela busca de vantagens oficiais por caminhos espúrios. Fora do registro a merecer estudo de risco para explicar tal noção de impunidade, no geral e numericamente o ano não foi bom. Ao contrário, ante previsão de estabilização aos pífios níveis de 2015, o país piorou 19% em consumo de veículos. Mau indicador: veículos de trabalho, como caminhões e ônibus tiveram queda de 50 e 70%, índices de ociosidade industrial. Setor de auto-peças teve mau resultado semelhante, e a rede revendedora encolheu: investiu para vender 5 milhões de veículos e o volume caiu abaixo da metade, inviabilizando as operações. A indústria manobrou rápido e a desvalorização da moeda fez crescer exportações, mandando 500.000 veículos pra fora.

Negócio >> Investimentos mantiveram-se aplicados e novos foram anunciados, ante a certeza de bons dias e da estratégia de ter produtos novos para surfar quando a onda aparecer. Fábricas com olhos puxados, sempre imunes a crises, tiveram um comportamento diferente: chinesa JAC não levantou paredes, com intensas mudanças, de sociedade a projeto. Deixa a dúvida se efetivamente terá operação industrial ou se ficará limitada às importações. Chery, primeira a se instalar, tem operação traçada pelo humor do sindicato de metalúrgicos de Jacareí (SP). No tema dificuldades de relacionamento com representação sindical, a HPE, ex-Mitsubishi, enfrentou greve. Sindicato ainda não entendeu ser para valer o aviso dado ao Estado de Goiás no princípio do ano: empresa ameaçou mudar-se e o governo tremeu. A fábrica é o esteio do pequeno município de Catalão, e a responsabilidade pelo desemprego de 4.500 pessoas periclitará para o lado dos líderes sindicalistas. Em situação assemelhada, porém, de origem diferente, o Grupo Volkswagen enfrentou mundialmente problemas com fornecedor de assentos. De pensamento soviético o fabricante de tal componente resumiu e sustou o fornecimento, forçando parar a produção. Volkswagen incentivou o surgimento de novos fornecedores para reatar a produção depois de enormes prejuízos pela produção suprimida.

Novo Prius: híbrido trazido pela Toyota está vendendo acima das expectativas
Novo Prius: híbrido trazido pela Toyota está vendendo acima das expectativas

Crença >> Honda mantém as novíssimas instalações fechadas em Itarapina (SP), à espera do aumento de demanda no mercado, e Toyota investe para aumentar capacidade de fazer motores na também paulista Porto Feliz. Hyundai surpreendeu apresentando o Creta e Mercedes-Benz e Jaguar Land Rover inauguraram fábricas para cumprir os acordos com o programa Inovar-Auto. Programa oficial foi responsável por investimentos para tornar motores antigos mais econômicos, e lançar nova geração marcada por engenhos 1.0 e três cilindros, e o uso do turbo como viabilidade. Balanço ao final de 2017 dirá se o caminho furcado entre investimento e punição aos importados mais baratos, valeu à pena ou apenas favoreceu algumas marcas. Assuntos liderados pelo então ministro e hoje governador mineiro Fernando Pimentel exigem cautelas e cuidados. A CAOA Montadora está envolvida em processo com o citado.

Varejo >> No varejo o país experimentou mais de 100 lançamentos de produtos e versões, incluindo produtos importados e os utilitários esportivos definiram a pauta de investimentos. Para competir no mercado exige-se produto com tal morfologia, e novidades não faltam: Renault capitaneia o negócio com lançamento de três produtos neste ano. Do pequeno Kwid, ao médio Captur e o importado Koleos como o mais luxuoso da linha. Como definição, o carro híbrido mostra o futuro próximo e BMW, Ford e Toyota buscam ampliar presença de seus modelos no mercado. Primeira leva de Prius surpreendeu e a marca aumentou volume de importação com novo modelo.

Museu Nacional do Automóvel em Brasília: esperanças no fim do ano
Museu Nacional do Automóvel em Brasília: esperanças no fim do ano

Periferia >> Na atividade de imprensa especializada, o surgimento de sem números de blogs e portais, maioria sem vocação ou conhecimento, entretanto, festejados por fabricantes, montadoras e importadores. Lado oposto, foi-se antes do combinado o culto, bem humorado e polêmico JR Mahar. Liderança tão sensível, seu blog permanece. No cenário dos veículos antigos, preços subiram, negócios caíram. No panorama, hobby antigomobilístico em expansão, surgimento de clubes, realização de eventos, mas o negócio continua sem a filosofia básica da originalidade. Federação Brasileira de Veículos Antigos continua coerente, exibindo o retrato dos colecionadores brasileiros: diretoria foi reeleita sem mostrar êxito no projeto de gestão. Questão de museus, mau ano. O acervo do antigo Museu Paulista de Antiguidades Mecânicas transferido ao município de Caçapava(SP), teve cuidados desacelerados. Não é prioridade da prefeitura local. Ao final do ano, duas notícias em direções opostas. Patrícia Matarazzo, gestora do Museu Eduardo Matarazzo, em Bebedouro, reabriu após obras e notificou Prefeito e Câmara de Vereadores: ou cumpre o prometido, assumindo manutenção do prédio oficial ou o acervo será transferido para fazenda da família, e o Museu, fechado após 49 anos. Lado oposto, em Brasília, para salvar o Museu Nacional do Automóvel, surgiram três propostas oficiais para viabilizar, talvez, o único espaço no mundo dedicado à história da indústria automobilística de um país. (Os artigos assinados por colaboradores são de inteira responsabilidade dos seus autores. A editoria geral desse veículo, necessariamente, não concorda com as opiniões aqui expressas. Texto desta coluna: Roberto Nasser)