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Fenatran 2013: caminhões carregam o Brasil nas costas

Dúvidas coerentes. Nosso país só produz automóveis e comerciais leves com motores de quatro cilindros e, dentre estes, os 1.0 (1.000 cilindradas) são a maioria. De motor monocilíndrico, pequeno volume, maciçamente destinado a trabalho na cidade e a substituir cavalos e burros nas cidades do interior e no campo, motos 125 vendem muito. E também carros pretos ou prata, parte maior da massificação das preferências nacionais à hora de comprar um veículo de passeio. O que você acha que vende mais? Nem um, nem outro.

Nossa liderança está nas vendas recordes de caminhões. Comercializamos enorme quantidade (cerca de 200 mil unidades neste ano), muito à frente dos restantes mercados, incluindo os países de origem dos caminhões aqui produzidos, exceto China. E vamos subindo a rampa. Maior mercado, reunindo superior quantidade de marcas em produção: solitária empresa nacional, a Agrale mantém-se entre estadunidenses, suecos, alemães, italianos, holandeses, coreanos e, como se promete, chineses. Tudo isso se concentra numa feira técnica a cada dois anos. É a Fenatran, neste caso, 19º Salão Internacional do Transporte, ocorrida sempre em São Paulo. De negócios, sem entradas pagas, apenas convites a público especializado de compradores, operadores, frotistas. Todos no escombro inoperacional chamado “Anhembi”, prédio da prefeitura paulistana, cedido aos organizadores de evento e sem intervalos para sofrer reparos ou manutenção. Há anos é perigosa sauna e a Prefeitura da cidade não investe em seu sanear para não interromper o faturamento, enquanto os operadores dos eventos alegam nada ter a ver com isto. Realizado de 28 de outubro a 1 de novembro, a expectativa de receber 60 mil visitantes para fazer negócios com os 376 expositores de 15 países. No setor, coerentemente é a maior mostra continental.

Operacional >> A abertura mostrou dados curiosos, como o intenso uso de adjetivos nas apresentações, todas rotuladas como novidade, caminho, tendência, solução, menor custo operacional. Exageros. Novidade maior foi a ausência das marcas que passaram meses anteriores prometendo instalar-se no Brasil. Desconsideraram o evento bianual para apresentar e exibir os produtos. Nestas, chinesas como a Foton e a JAC, vendendo caminhõezinhos; a junção de Caterpilar/International, não apareceram. Das novas, duas: a ex-holandesa DAF, hoje de capital dos EUA e a Metro-Sachman, nome brasileiro, sobrenome chinês, apresentaram seus produtos.

Governador paulista Geraldo Alckmin visitou espaço dos caminhões “International”, fabricados em Caxias do Sul(RS). São Paulo sedia 45% da produção de caminhões. Curiosamente, das marcas tradicionais, era a única sem lançamentos. Alckmin enfatizou pressão sobre o roubo de cargas e caminhões, também sobre resultados previstos no programa de renovação da frota em tentativa de implantação por alguns estados, incluindo São Paulo. Ausente o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Governo Federal perdeu a oportunidade de liderar o processo de renovação da frota de caminhões. A nossa tem perigosa idade média de 16 anos.

Uma das maiores referências para a Fenatran 2013, o patamar de potência e tração, segue o otimizador de transmissão, dito “automatizador”, apresentado pela Scania há duas décadas, e viabilizado pelo emprego de eletrônica. Ele mantém as tradicionais caixas de marcha com engrenagens metálicas, mas seu sistema de troca poupa o motorista, o motor, a transmissão e o bolso do empresário. É a nova tendência. Em potência a Volvo levantou a bandeira da liderança com o sueco FH 16, motor deslocando 16.000 cm³, produzindo 750 cv e 3350 Nm de torque. Tem capacidade para arrastar até 200 toneladas (menos que o Scania com motor de 620 cv e 250 T…), e é aplicável em cargas indivisíveis, destas fora de padrão exigindo reboques com inúmeras rodas para distribuir peso sem danificar as rodovias. Presença pouco mais que o institucional, serão o nicho do nicho. No outro extremo, o veículo de transporte mais leve é um Uno Furgão. O conhecido e bem sucedido Uno com carroceria fechada. Não é novidade. Seu avô, o 147, tinha versão assemelhada. Para 1 m³ ou 400 kg de carga. Leve, também o novo Fiorino e o recém lançado picape Strada com 3 portas. Ocasião de mídia e eventos institucionais, restou a dúvida? No setor quem é mais importante? Em pesquisa da revista Carta Capital, a MAN, maior, foi escolhida a “Mais Admirada do Brasil”. A CAOA, que monta alguns Hyundai, também. A MAN é conduzida por Antônio Roberto Corrêa, festejado mundialmente. A CAOA, pelo médico Carlos Alberto de Oliveira Andrade, que lhe cede o apelido.

Quem é de quem?

DAF – Das novas marcas, a única com produto tátil, apresentou-o como fabricado na nova usina de Ponta Grossa (PR), o caminhão XF105 e avisou ter próximas linhas CF (pesado), e LF (semi pesado). Apesar de apresentar-se como líder no mercado europeu de cavalos mecânicos, como vender num mercado atípico, tão forte que expulsou a General Motors da operação? Marco Antônio Davila, presidente, explica, o diferencial da companhia é o pós-venda.

DAF, de Ponta Grossa, líder mundial em cavalos mecânicos

FORD – Sua operação de caminhões é quase exclusividade, dividindo com a Turquia desenvolvimento e produção. Na Fenatran exibiu a nova (turca) van Transit; anunciou a volta a produção do caminhãozinho F4000; renovou o líder 816 e fez apresentação formal do que chama de extra pesado, os 2842 e 2042. Mudou novamente os motores. Agora FPT. Apresentou o novo diretor de caminhões, Guy Rodriguez.

F-4000: de volta ao batente

IVECO – Exibiu o extra pesado Stralis Hi-Way Também nova geração do Tector Economy, 300cv em duas versões e três novos produtos: Tector Attack 280, off-road Trakker e o médio Vertis HD. Seriação está no programa de levá-la, a médio prazo, à terceira posição em vendas. Primeira a MAN, segunda Mercedes.

Hi Way: topo de linha da Iveco

HYUNDAI – Na Fenatran 2011 a Hyundai apresentou seu caminhão HD 78, criticando todos os outros fabricantes quanto a produtos e vendas. Passados dois anos, o HD 78 vendeu mínimas unidades apesar de ter aberto mão do motor coreano, trocando-o por ítalo-mineiro, o FPT. Na apresentação, performance de Luiz Sérgio, diretor de pós-venda, sem assunto ou resultados mesclava o HD 78 com o pequeno HR sempre aplicado a uso urbano. Do HD 78 versão traçada.

MAN – Líder, a MAN Latin America fez efeito demonstração e apresentou 14 produtos, abrindo amplo leque de motores, potências, tonelagens, entre 150 e 480 cv de potência. Nos mais vendidos, os Constelation 19.420. 25.420 e 26.420, motores Cummins de 420 cv e transmissão automatizada com gerência eletrônica. Topo da linha, o MAN TGX 29.480 6×4 para longas distâncias. Meados de 2014

TGX 29.480: o máximo da MAN

MERCEDES – Ex-líder, fez profissão de fé, anunciando pelo presidente Philipp Schiemer investir mais R$ 1 Bilhão para fazer caminhões e ônibus, desenvolver novos produtos, nacionalizar o extra-pesado Actros. Na mostra, o VUC (veículo urbano de carga, que pode circular nas cidades) Accelo 1016, com o 3º eixo e ABS de série; o Atego 2430 Econfort, primeiro semi- pesado com transmissão automatizada. A linha das vans Sprinter ocupou bom espaço e os problemas paulistanos de trânsito e segurança instigaram a marca a desenvolver o que chamou de Limousine Sprinter, teto alto, cuidados internos para conforto e entretenimento e trabalho. A verba não se confunde com a arrancada para a produção de automóveis.

METRO-SCHACMAN – Chinesa com dois extremos e dois operadores: Metro-Schacman e Schacman, difícil de entender a operação e os limites de atuação de cada uma. A Metro-Schacman reduziu os preços dos caminhões importados: cavalo mecânico TT 385 4×2 a R$ 200 mil; TT 385 6×4 a R$ 210 mil. Topo de linha, o TT com 420 cv, 56×4, a R$ 220 mil. Exibiu, também, protótipo do TT 440 6×4, modelo que diz produzirá no país com partes fornecidas por mais de 40 fornecedores: motor Cummins, transmissão automatizada e mecânica, Eaton e ZF, eixos Dana e Meritor.

SCANIA – Contida em lançamentos, o super pesado R 620 8×4, capaz de puxar 250 toneladas, e o novo médio P 310 6×4. Celso Mendonça, gerente de pré-vendas, esnobou com a exclusividade do único motor de ciclo diesel movido a álcool. Enfatizou o Streamline, que sugere tipo de caminhão, mas é sistema integrado de produtos e serviços.

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RODA-A-RODA

MICOU – Acabou a produção dos BMW Série 1.

SAIU – Há preços para as versões do Ranger Rover Sport, considerado o melhor dos Land e superior a boa parte da renda de frequentadores do segmento do utilitário esportivo de luxo. Vai de R$ 377.500 para a versão V6, 3.0 – 292 cv -, a R$ 540 mil para a de topo, dita Autobiography Dynamic, motor V8, 5.0, 510 cv. Vendas começam imediatamente.

MUDANÇA – Distante, mas importante por ser concorrente sugando investimentos que viriam ao Brasil, o mercado russo verá outro mandão na ex-estatal GAZ: Bo Anderson, sueco, ex-Saab, levado pela GM, ex-sócia do negócio. Foi quem passou a limpo a manufatura estatal para transformar os Lada em veículos consideráveis.

FUTURO – Aval da sócia com conhecimento é a união Renault-Nissan, gestora a partir de meados de 2014. Vendas da GAZ em queda. Vendas domésticas previstas em 2,8 milhões em 2013.

ESTUDO – Com a economia desorganizada, num clima de cada um por si entesourando dólares fora da contabilidade oficial, o mercado doméstico argentino dará um salto neste ano, prevendo vender 800 mil unidades. Passará os usuais 1/5 do mercado brasileiro, este ano calculado em 3,8 milhões.

DEMOCRACIA – Plus em Mercedes são as letras AMG indicando desenvolvimento pró-performance por esta divisão da marca. Os novos “Classe A”, base de entrada, passam por este batismo. Dúvida é: a democratização e o volume não acabarão com o luxo e a diferenciação?

COMPETÊNCIA – Pesquisa indicou a Porsche Consulting GmbH, desta família, como, de longe, com a melhor reputação dentre as empresas de consultoria. Sucesso explicável pela dedicação ao tema, ao cliente e no envolvimento operacional e administrativo. Tem filial no Brasil. Em 1994 tinha 4 funcionários. Hoje, 350.

CONSELHO – Oportuno lembrar, no pânico de caixa em que o país vive, mudando critérios contábeis, vendendo patrimônio para fechar as contas do varejo, desperdiçamos oportunidade: poderíamos alugar as ruas e estradas brasileiras para fábricas de automóveis de todo o mundo aqui testar carrocerias e suspensões dos futuros produtos.

ECONOMIA – Reproduzir as árduas condições nacionais, de exigência superior ao máximo existente nas pistas de prova, exigirá muito investir em pistas próprias, sendo infinitamente mais barato pagar aluguel para testes. Carro que é aprovado para o Brasil pode beirar a eternidade em países civilizados.

DUALIDADE – Que venham logo. “Será problema encontrar estrada ruim até o final do governo”. Disse o ministro dos Transportes em encontro com grupo LIDE (Grupo de Líderes Empresariais). Hoje apenas 12% das estradas estão em má condição e ao final de 2014 tal número chegará a zero e todas estarão em boas condições de tráfego. O ministro César Borges é baiano e engenheiro.

DÚVIDA – Em sua pasta, com intimidade policial por conta de continuados escândalos com verbas públicas, empresa com capital de R$ 10 mil, corrigiu-o para R$ 2,1 milhões e ganhou concorrência para fornecer R$ 750 milhões em trilhos para a Ferrovia Norte-Sul. A licitação foi suspensa duas vezes por irregularidades.

COMPETÊNCIA – O Velo Cittá, circuito de corridas em Mogi Guaçu(SP) é o terceiro traçado homologado pela FIA. Antecedem-no Interlagos e Curitiba. Construído pelo empresário Eduardo Souza Ramos, é de primeira qualidade, como o que faz e, ao contrário de parecer capricho, é investimento, recebendo provas do Lancer Cup, Mitsubishi, provas de Porsche, Classic Cup, lançamento de veículos, etc…

GENTE – Mário Lafitte, engenheiro, diretor corporativo da Mercedes-Benz no Brasil, novo desafio. Mercado o diz como novo VP da Samsung. OOOO

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Picape FNM: a garantia para os caminhoneiros

Caminhão não é igual a automóvel. Este, para transporte individual e lazer, o outro, para trabalho. Assim, não podem, em caso de quebra, pane, necessidade de reparos, imobilizar-se em local sem assistência ou peças para manter-se funcionando. Quando a Fiat Caminhões chegou ao Brasil com seu inicial modelo 130, diesel, seis cilindros em linha, seu fabricante, a antiga estatal Fábrica Nacional de Motores, sabia, para sedimentar a marca deveria dispor de assistência técnica espraiada pelo país. Anos 70, vias rasgando a selva, rodoviarismo a pleno acelerador, criando oportunidade ao caminhoneiro individual, sua rede de revendedores era inferior ao projeto de vendas. A dificuldade foi vencida por entusiasmo e coragem de um italiano radicado no Rio de Janeiro, Alfredo Migani, revendedor e boa assistência para automóveis Alfa Romeo, em especial os importados.

Picape FNM 2150, garantia para os caminhoneiros

 

Migani, para ampliar negócios, ofereceu-se para revender caminhões e garantiu à Fiat/FNM e clientes dos caminhões por ele vendidos, resolver qualquer problema mecânico, onde estivesse o veículo, até nas distantes Belém-Brasília ou nos pedaços utilizáveis da Transamazônica. Proposta corajosa, mas factível. Migani tomou seis unidades do FNM 2150, luxuoso automóvel nacional que também revendia, mandando-os a Renato Peixoto, o Peixotinho, na oficina RePe em Petrópolis (RJ). Lá reforçou a estrutura, pouco elevou a altura do veículo, cortou a carroceria após a coluna “B”, criando pioneiro e simpático picape sobre automóvel no Brasil. Tão insólito quanto os picapes era o processo de atendimento. Cliente informava quebra, por exemplo, na bomba de injeção e a Victori carregava um motor completo, valendo o mesmo para câmbio, direção e diferencial. Os carros, rápidos e com com dois motoristas/mecânicos, iam, trocavam o grupo defeituoso, liberavam o caminhão, voltavam à sede carioca para desmontar o sistema e sanar o defeito. Funcionou como inovação em serviço. Remanescem a ideia, o Alfredo e, crê-se, um dos rápidos picapes.